Fevereiro 2024
EFEITO PLACEBO
Guião Ted Talk
A primeira vez que ouvi falar do efeito placebo terá sido quando entrei para o primeiro ano. Por vezes, queixava-me de algumas dores. Podia ser dor de cabeça ou de barriga, geralmente na hora de ir para a cama. Eram na realidade pequenos sofrimentos emocionais.
Estava à procura de atenção. Sabem como é.
Quando me queixava, a minha mãe dava-me uns pequenos comprimidos, que me curavam em minutos.
Anos depois, descobri que esses comprimidos eram bolinhas de pão amassado enrolados em açúcar.
​
​
O que é o efeito placebo?
​
O efeito placebo pode ser confundido com positive thinking (otimismo). Mas não é só isso. A ideia de que o nosso cérebro pode convencer o nosso corpo a sentir-se melhor porque acredita num medicamento ou num tratamento é o chamado efeito placebo.
​
No 6º filme do Harry Potter (não sei se conseguiram chegar tão longe ou só se ficaram pelo primeiro), mas o Ron (o rapaz ruivo para referência) ia ser titular pela primeira vez no quidditch e está muito nervoso e sem confiança, o Harry ( o rapaz da cicatriz) disse lhe que pos Liquid Luck ou seja Sorte líquida na sua bebida e o Ron sentiu se extremamente confiante e fez um brilharete no jogo. Mais tarde o Harry confessou que não tocou na bebida de Ron, e isto é pura e simplesmente o fantástico efeito placebo. Podem testar com os vossos amigos. Por exemplo, antes de um teste, se tiverem um amigo extremamente nervoso podem lhe dar um chá normal e dizer que tem propriedades calmantes. Acreditem que funciona!
É evidente que os placebos não vão curar um tumor ou baixar o colesterol. Mas vão funcionar em sintomas que são modulados pelo cérebro, como a percepção da dor ou ansiedade.
Os sintomas que melhor reagem a placebos são a gestão de dor, os problemas em adormecer associados ao stress, cansaço, má disposição e náuseas.
Parece magia, certo? Mas não é.
E a ciência já sabe muito bem como usar os placebos em diferentes casos.
​
Como é que funciona?
​
Como os placebos funcionam ainda não é claro. Mas sabe-se que isso envolve uma reação neurológica complicada. Essa reação inclui, entre outros, a libertação de neurotransmissores associados ao bem estar como endorfinas e a dopamina (acho que já estamos todos fartos de ouvir falar na Dopamina certo) e o aumento de atividade em zonas do cérebro relacionadas com o humor e as emoções, como o sistema límbico.
História do efeito placebo
​
Durante muitos anos, na realidade, o efeito placebo esteve associado ao fracasso. Isto porque os placebos são usados em ensaios clínicos para testar a eficiência de tratamentos e de remédios.
Imaginem que está a ser feito um estudo a um novo remédio. No ensaio, dividem as pessoas em dois grupos:
O 1.º grupo recebe o remédio que está a ser testado e o 2.º grupo recebe um placebo. Parece um medicamento, toma-se como um medicamento, mas não tem princípio ativo.
Se os resultados dos dois grupos forem iguais, mesmo que haja uma melhoria, é considerado que o medicamento em ensaio não funciona.
Recentemente, os cientistas descobriram que o facto de haver uma reação ao placebo não significa que o tratamento não funcione.
Apenas significa que há mais mecanismo não farmacológico funcionais.
​
​
Ensaios Clínicos
​
Sabem qual é o remédio mais difícil de testar devido aos super-poderes dos placebos?
Os comprimidos para dormir! Esta história é incrível!
Já todos ouviram falar no valium? São os comprimidos mais famosos para dormir.
Numa entrevista, perguntaram ao ceo da empresa que desenvolveu o medicamento se ele tomava os comprimidos. Ele disse que não. Disse também que quem tomasse apenas deveria tomar 1 quarto do comprimido.
​
A explicação é simples: a eficácia do efeito placebo por trás dos comprimidos para dormir é enorme. Qualquer pessoa que tome um comprimido para dormir diz que teve a melhor noite da sua vida. Assim, para estes comprimidos serem aprovados pela Food and Drugs Administration norte-americana, a dosagem do princípio ativo tem de ser muito aumentada. Nessa entrevista, o CEO disse que os comprimidos põem elefantes a dormir.
​
Agora, ainda na saga dos comprimidos. Quem é que daqui, mais para as raparigas, prefere tomar trifene em vez de brufen?
​
A realidade é que estes dois remédios são iguais, têm o mesmo princípio ativo - ibuprofen. Só distinguem em duas coisas. A marca e a cor. O brufen é branco e o trifene é encarnado.
Sabe-se que a cor dos remédios é o fator que mais influencia a resposta ao placebo. Ao longo de todos os estudos tirou se uma conclusão sobre as respostas mais frequentes dos placebos. Percebeu-se que os comprimidos coloridos têm mais impacto do que os brancos. Encarnado amarelo e cor de laranja são julgados como mais fortes e ativos. Os azuis e verdes passam uma imagem tranquilizadora
Efeito Placebo além da Medicina
​
Será que isto só funciona com comprimidos?
Então pensem lá quantas vezes já tocaram no botão para o semáforo ficar verde mais depressa na passadeira.
Na realidade, uma percentagem enorme desses botões pura e simplesmente não funcionam. Não temos dados sobre Portugal, mas em São Francisco 259 em 1200 não funcionam e 100 para 1000 em Nova Iorque não funcionam.
O mesmo acontece com muitos botões de elevador para fechar as portas. Só existem para ajudar a reduzir o stress de quem espera e dar uma ilusão de controlo.
Conclui que as cidades estão cheias de butões que não funcionam, uma informação muito gira para refletir.
Até nas bebidas alcoólicas o efeito funciona. Num estudo, foi dada cerveja sem álcool a algumas pessoas, mas disseram-lhes que tinha álcool. Como resultado, alguns começaram a exibir sinais de embriaguez, como problemas de coordenação e comportamento alterado.
O mesmo acontece com café… Se derem ao vosso pai um descafeinado para não beber tanto café e lhe disserem “cuidado que é café muito forte” - especialmente se estiver numa chávena encarnada - vai ter um boost de energia. Não encontrei fontes fidedignas, mas lá em casa funciona perfeitamente.
​
​
​
​
Webgrafia:
​
1. https://premier-research.com/our-capabilities/real-world-data-evidence/
2. https://www.health.harvard.edu/mental-health/the-power-of-the-placebo-effect
4. https://edition.cnn.com/style/article/placebo-buttons-design/index.html
5. https://hms.harvard.edu/news/placebo-goes-beyond-consciousness
6. https://holiste.com.br/noticias-cerveja-sem-alcool-tambem-libera-dopamina-no-cerebro
7. https://www.youtube.com/watch?v=rmB8ALhdw9I
​