
SAÚDE MENTAL EM PORTUGAL

Dezembro 2023
A saúde mental refere-se ao estado geral de bem-estar psicológico e emocional de uma pessoa. Envolve a capacidade de lidar com o stress do dia a dia, de conseguir estabelecer relações saudáveis com terceiros, de tomar decisões e de lidar com diferentes tipos de adversidades. A saúde mental não se limita, apenas, à ausência de doenças mentais, mas engloba o equilíbrio emocional e psicológico. É uma componente fundamental da saúde global e contribui para a qualidade de vida.
Em Portugal, como em muitos outros lugares, tem havido uma crescente consciencialização sobre a importância da saúde mental e um esforço para reduzir o estigma associado às doenças mentais. A promoção da saúde mental inclui agir para prevenir problemas psicológicos, promover o bem-estar emocional e dar apoio a quem enfrenta problemas psicológicos.
Efetivamente, existem várias dificuldades e estigmas associados à saúde mental que podem impactar significativamente a vida das pessoas:
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A falta de conhecimento e de informação disponível, e por isso, pode fazer com que alguns sintomas passem despercebidos ou não se perceba a gravidade de algumas situações;
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O facto de o estigma social sobre a saúde mental persistir em muitas mentes em diferentes países e culturas pode levar à discriminação e ao isolamento social de pessoas que estam a tentar enfrentar problemas relacionados com a saúde mental;
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A falta de recursos adequados dificulta a disponibilização de ajuda necessária aos pacientes mentais;
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Um dos maiores problemas é o auto estigma, ou seja, pessoas que lidam com problemas mentais e não são capazes de aceitar e reconhecer que precisam de ajuda.

FACTOS E DADOS SOBRE A SAÚDE MENTAL
Portugal é o país da UE com maior prevalência de problemas de saúde mental, sendo que 23% da população portuguesa sofre de doenças mentais, tais como ansiedade, depressão ou vícios.
Segundo a OCDE, em média, 11% das populações dos países da União Europeia
apresentam sintomas de problemas psicológicos, sendo que, 60% destes não têm acesso a cuidados de saúde mental.
A OCDE (2020) destaca que, sem tratamento e apoio eficazes, os problemas de saúde mental podem ter um efeito devastador na vida das pessoas e aumentam significativamente o risco de morte por suicídio. Em 2017, mais de 48.000 pessoas morreram por esta causa no total dos países que integram a UE, o que corresponde, em média, a 11 mortes por suicídio por 100.000 habitantes.

Portugal apresenta um valor médio um pouco abaixo de 10 mortes por suicídio por 100.000 habitantes, com os homens a apresentarem 16 mortes por suicídio por 100.000 habitantes, e as mulheres 5 mortes por suicídio por 100.000 habitantes (OCDE, 2020).
Em Portugal, em 2019 face a 2018, houve uma redução em relação aos recursos humanos nos cuidados de saúde primária, nomeadamente psicólogos e psiquiatras. No entanto, entre 2019 e 2020, constata-se que o número de recursos humanos aumentou, nas regiões de saúde que apresentaram informação neste período.
De facto, a maior variação no número de psiquiatras, entre 2019 e 2020, verificou-se na ARS Centro, equivalente a 26,3%. .

Para acrescentar, apenas a região Centro indicou ter psiquiatras nos cuidados de saúde primários, o que poderá causar impacto no acesso aos cuidados de saúde mental.
O SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE MENTAL
De acordo com o Coordenador Nacional das Políticas de Saúde Mental, Miguel Xavier, a saúde mental não foi uma prioridade para os governos nos últimos 20 anos. Por isso, agora que Portugal está a iniciar uma reforma a nível da saúde mental, apresenta inúmeras falhas:
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Escassez de recursos humanos na área da psicologia, embora se tenha observado um aumento do número de psicólogos;
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Falta de sistemas de informação, o que faz com que os hospitais e centros de saúde tenham dificuldades a apresentar diagnósticos e análises completas;
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Falta de resposta dos hospitais em áreas específicas, como na Psiquiatria da Infância e da Adolescência, que no Centro Hospitalar do Algarve não existia oferta quer ao nível de consultas externas quer ao nível de internamentos (2015);
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Assimetrias regionais no acesso e qualidade a cuidados públicos de saúde mental.
No entanto, o Sistema Nacional de Saúde Mental apresenta algumas melhorias, devido ao recente investimento no mesmo:
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Melhoria do acesso aos cuidados de saúde, através do reforço dos serviços disponibilizados, como Linhas de Apoio Psicológico, Gabinete de Crise, consultas adicionais, consultas online, Grupos de Apoio à Saúde Mental Infantil, etc…
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Aumento dos profissionais de saúde, ainda que insuficiente;
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Maior organização a nível nacional, visto que 1) trabalhavam apenas 4 pessoas nesta área na Direção-Geral da Saúde e agora trabalham mais de 70; 2) existem 5 coordenações regionais, que permitem melhorar o acesso aos cuidados de saúde nas diferentes zonas do país, de modo a diminuir as assimetrias existentes.
IMPACTO DO COVID-19 NA SAÚDE MENTAL
As condições a que fomos expostos durante a Pandemia, ou seja, o isolamento social, a desorganização do Sistema Nacional de Saúde e o constante risco e medo de apanhar o vírus, marcou negativamente a saúde mental dos portugueses.
Desta forma, registou-se um aumento, maioritariamente, de depressão, ansiedade e stress pós-traumático. Um estudo publicado em 2021 ( Saúde Mental em Tempos de Pandemia (SM-COVID19) ), afirmou que 34% dos portugueses apresentavam sinais de sofrimento psicológico, sendo que 27% e 26% dos entrevistados para o estudo mostraram ter, respetivamente, ansiedade e depressão. Os profissionais de saúde apresentaram taxas mais elevadas de problemas de saúde mental, relativamente ao resto da população, por estarem constantemente expostos a situações de stress e com cargas de trabalho excessivas, aumentando também os níveis de burnout (exaustão física e emocional). Além disso, a procura de cuidados de saúde mental aumentou, visto que a população assistiu diariamente ao aumento da mortalidade, incluindo perdas de pessoas conhecidas.
Uma das causas para o deterioramento da saúde mental em Portugal foi também o caos que abalou o SNS:
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O financiamento para as áreas da saúde diminuiu;
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Dificuldade no acesso aos serviços e cuidados de saúde, visto que grande parte deles foram suspensos;
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Interrupções de consultas de psicologia, de intervenções de emergência …
No entanto, o Sistema Nacional de Saúde proporcionou novas formas de apoio, como uma linha telefónica de acesso gratuito para aconselhamento psicológico, disponível todo o dia - 808242424.
PROJETOS E INSTITUIÇÕES
Em Portugal, começam a existir alguns projetos e instituições que se dedicam à promoção do bem estar emocional:
A Ivory World é uma marca de roupa que tem o lema “mental health is not a privilege”. Ao comprar uma peça recebe-se uma consulta de graça ou então pode oferecer-se a um amigo ou familiar. Também há a opção de oferecer esta consulta a pessoas que estão na lista de espera do Sistema Nacional de Saúde Mental. Neste momento, estão a oferecer consultas online com um psicólogo clínico de graça (40 minutos) a qualquer pessoa afetada pelos conflitos atuais, por exemplo a Guerra na Ucrânia ou a Guerra entre Israel e Hamas.

Além de ter grandes iniciativas e objetivos, tem roupa muito gira :) A roupa está à venda em mercados (Ex: Spot Market) ou online.

O projeto R U OK? (estás bem?) começou na Austrália e consiste em fazer essa simples pergunta para começar conversas sobre a saúde mental, de forma a promover uma entre ajuda e evitar complicações sérias. Após perguntar, é necessário escutar e encorajar uma mudança na pessoa e, mais tarde, verificar o desenvolvimento positivo que essa pessoa está a ultrapassar.
WEBGRAFIA
Estudo sobre saúde mental, Entidade Reguladora da Saúde (https://www.ers.pt/media/slzpzdwk/estudo_saude_mental_02-2023.pdf)
“Pandemia deixou um terço dos portugueses em sofrimento psicológico”, SIC Notícias (https://sicnoticias.pt/especiais/saude-mental/2023-10-09-Saude-mental-em-numeros-pandemia-deixou-um-terco-dos-portugueses-em-sofrimento-psicologico-52b21ada)
Organização Mundial da Saúde
“Quase um quinto da população portuguesa sofre de problemas mentais”, Público (https://www.publico.pt/2018/11/22/sociedade/noticia/quase-quinto-populacao-portuguesa-sofre-problemas-mentais-1852004
“A saúde mental não depende só de bons serviços, mas de boas soluções sócio-económicas”, Diário de Notícias (https://www.dn.pt/sociedade/amp/a-saude-mental-nao-depende-so-de-bons-servicos-mas-de-boas-solucoes-socio-economicas-15237276.html
“How to ask <Are you OK?>”, R u OK
(https://www.ruok.org.au/how-to-ask)
Ivory